Moedas estáveis: Inovação ou risco para o sector financeiro?

11 09 25

Alguns estão convencidos de que as stablecoins são ferramentas que irão impulsionar a modernização nas finanças, enquanto outros alertam para os seus riscos. Trata-se de moedas digitais cujo valor está ligado a uma das chamadas moedas fiduciárias. Mas quais são os prós e os contras das stablecoins? O que deve ser considerado, e qual das perspectivas acima mencionadas está mais próxima da realidade?

Provavelmente não resolveremos a questão final, pois não há uma resposta clara. No entanto, as stablecoins têm estado no centro das atenções nas últimas semanas, e não apenas nos media. Seu recente aumento de popularidade está parcialmente ligado ao presidente dos EUA, Donald Trump, que assinou uma lei que regulamenta o mercado de stablecoin há menos de dois meses.

Stablecoins como uma solução para ineficiências

Consideremos os pontos de vista de dois especialistas que veem o papel das stablecoins de maneiras completamente opostas. De acordo com o primeiro deles, Eswar Prasad, professor da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, as stablecoins são quase uma bênção para o mundo das finanças. Prasad acredita que os avisos sobre stablecoins são enganosos, o que, segundo ele, decorre de um mal-entendido sobre sua natureza.

 

"O que as stablecoins estão realmente a fazer é lançar uma luz dura sobre as ineficiências generalizadas nos sistemas financeiros modernos e mostrar como as novas tecnologias podem corrigi-las, criando meios eficientes, baratos e amplamente acessíveis de pagamentos domésticos e transfronteiriços", escreveu Prasad para o diário britânico Financial Times. [1]

 

As stablecoins também destacam a falta de confiança em muitos bancos centrais e suas moedas. Prasad acredita que é do interesse dos governos, reguladores e banqueiros centrais resolver essas deficiências.

Ele acrescenta que a zona do euro já reconheceu essas questões e está trabalhando em um euro digital, uma moeda digital do banco central (CBDC). De acordo com Prasad, o sector bancário privado também terá de responder à crescente popularidade das stablecoins e dos CBDCs, simplificando os sistemas de pagamento e oferecendo produtos alternativos. A longo prazo, diz Prasad, todos os que operam no mercado financeiro poderão beneficiar.

Preocupações quanto aos riscos para as famílias

O economista vencedor do Prémio Nobel Jean Tirole não partilha deste otimismo. Ele argumenta que as stablecoins podem representar riscos significativos para as famílias que as detêm, observando especialmente as razões pelas quais algumas stablecoins são emitidas, particularmente aquelas vinculadas ao dólar americano.

 

Apoiar stablecoins com títulos do governo dos EUA pode ser problemático devido aos seus rendimentos relativamente baixos. Tirole salientou que os retornos da dívida do Tesouro foram "negativos durante vários anos", com a inflação a corroer ainda mais os pagamentos. "Os emissores de stablecoin podem, portanto, ser atraídos pela tentação de investir em diferentes ativos que geram retornos mais elevados e são mais arriscados", disse ele ao Financial Times. [2]

 

Isto, por sua vez, aumenta a probabilidade de uma situação em que as stablecoins perdem valor como activos de reserva, desencadeando potencialmente uma corrida à moeda a que estão indexadas.

 

"Num tal cenário, o preço das stablecoins pode descer à medida que perdem a sua ligação a uma moeda soberana", alertou Tirole. Segundo ele, esses riscos só poderiam ser geridos se os supervisores mundiais dispusessem de recursos humanos e incentivos suficientes para exercer extrema cautela.


Fontes:

[1] https://www.ft.com/content/72aa6431-366b-4409-b3ce-9a99d661473d

 

[2] https://www.ft.com/content/445e7fb6-1ec8-47f3-b74d-87f7960e85d6

Stablecoins e Usuários: Risco ou Revolução?